Resultados
Como destacado, indivíduos com ADHD com pontuação média 9 pontos mais baixa em medidas padronizadas de QI (Frazier et al., 2004). Assim, entre as pessoas com pontuação de um a dois desvios padrão inferior à média da população em QI, os indivíduos com TDAH estariam sobre-representados neste grupo. Dado que os indivíduos com TDAH são mais propensos a ter QI mais baixo, os investigadores que excluem os participantes com QI mais baixo não têm em conta a diversidade cognitiva que existe entre esta população; limitando a generalizabilidade dos resultados pelos investigadores. Por sua vez, isto pode levar a consequências prejudiciais das decisões de tratamento, a uma compreensão imprecisa do TDAH e a uma má compreensão da relação entre o TDAH e o QI.
p>O impacto prejudicial da exclusão daqueles com QI mais baixo pode ser demonstrado por uma série de estudos. Um exemplo, centra-se na prescrição de Atomoxetina, um inibidor selectivo não estimulante de transporte de norepinefrina. A atomoxetina demonstra ser eficaz em todos os sexos, subtipos de ADHD e idade (Michelson et al., 2001, 2002; Wernicke et al., 2001). Além disso, Sumner et al. (2009) demonstram que a Atomoxetina reduziu os sintomas de TDAH e melhora os resultados de leitura entre as crianças com TDAH e dislexia. Contudo, a sua amostra exclui participantes com QI inferior a 80 e Mazzone et al. (2011) reportaram mais tarde que um QI mais baixo (ou seja, inferior a 85) está associado a uma resposta clínica diminuída ao fármaco. Apesar desta investigação, os estudos continuam a examinar a eficácia e a segurança da Atomoxetina, não abordando a influência do QI (por exemplo, Fredriksen et al.., 2013).
Este cenário não é isolado, Klein et al. (2004) estudaram a eficácia do metilfenidato, outro fármaco psicoestimulante normalmente prescrito, mas também excluem participantes com resultados de QI inferiores a 85, apesar das descobertas anteriores de Aman et al. (2003) de que as crianças com TDAH e resultados de QI mais baixos respondem menos bem ao medicamento e são mais variadas nas suas respostas. Para além de limitar os nossos conhecimentos sobre TDAH e medicação estimulante, isto pode afectar negativamente aqueles com QI mais baixo. Por exemplo, os clínicos podem, sem o saber, prescrever um medicamento menos eficaz quando existem alternativas mais adequadas para esta população. Em geral, dado que o TDAH está associado a QI inferior à média, é necessário avaliar a eficácia de um determinado medicamento com base em resultados que podem ser generalizáveis a esta população como um todo. Para além de prescrever medicamentos potencialmente ineficazes a indivíduos com TDAH que têm QI mais baixo, limitando uma amostra de investigação aos participantes com QI médio ou acima da média, podemos chegar a interpretar mal a TDAH. Esta abordagem pode levar novamente a tratamentos/intervenções ineficazes.
Excluindo os participantes com TDAH que têm QI mais baixo, podemos também impedir o desenvolvimento da nossa compreensão de como o TDAH pode coexistir com outras condições e/ou evoluir para condições secundárias. Isto é melhor elucidado através da discussão da relação que o TDAH tem com outras doenças comorbitárias. Entende-se que o TDAH coexiste frequentemente com dificuldades de aprendizagem (LD’s) e com um tempo cognitivo lento (Hartman et al., 2004; Barkley, 2014). Tanto o tempo cognitivo lento como as DL estão relacionados com deficiências cognitivas (Mayes et al., 2000; Barkley, 2014). É importante notar que quando a TDAH coexiste com as dificuldades de aprendizagem e desatenção dos DL são exacerbadas (Mayes et al., 2000). Do mesmo modo, quando se coexiste com a TDAH, as deficiências são aditivas em vários domínios de funcionamento (Barkley, 2012, 2013). Além disso, a desordem de conduta e a desordem de personalidade anti-social, por exemplo, são comuns entre indivíduos com TDAH e estão associadas a QI verbal inferior à média (Barkley, 1998; Nigg e Huang-Pollock, 2003). O TDAH puro é incomum, mas quando existe está associado a QI mais elevado (Hervey et al., 2004). Assim, a exclusão de participantes com TDAH que têm QI mais baixo pode impedir o desenvolvimento da nossa compreensão de como a TDAH pode evoluir para condições secundárias, tais como distúrbios de personalidade anti-sociais ou a coexistência de condições secundárias, tais como as DL. Assim, a investigação daqueles com TDAH que têm um QI mais baixo pode promover uma compreensão tanto da sua etiologia como da sua prevenção. Em geral, para que intervenções eficazes possam ter lugar, a investigação empírica precisa de incluir participantes com QI mais baixo devido à relação documentada entre TDAH e as condições secundárias destacadas.
Tomando em conta a forma como a TDAH e o QI se influenciam mutuamente também é necessário. Por exemplo, os sintomas de TDAH podem colocar os indivíduos com TDAH a um risco acrescido de QI mais baixo em comparação com os seus pares sem TDAH (Rommel et al., 2015). Rommel et al. (2015) sugerem que as diferenças de QI podem ser um produto do fracasso em beneficiar da educação formal em comparação com os seus pares sem TDAH. Especificamente, os sintomas comuns de TDAH, incluindo desatenção, hiperactividade e impulsividade, podem limitar a capacidade de seguir as instruções dos professores e de aprender com as aulas. Isto pode levar a uma diminuição dos benefícios que a educação normalmente teria na ausência de tais sintomas. Os resultados de Washbrook et al. (2013) bem como Scholtens et al. (2013) como citado na pesquisa de Rommel et al. (2015), apoiam esta noção; os sintomas de TDAH afectam negativamente a realização académica. Os níveis de educação mais baixos, por sua vez, estão relacionados com o desempenho reduzido nos sub-testes de inteligência Wechsler (Walker et al., 2009). Além disso, pesquisas ainda mais recentes sugerem que o desempenho no teste de Matrizes Progressivas de Raven pode ser explicado pela educação (Sternberg, 2012; Fox e Mitchum, 2013). Assim, Rommel et al. (2015) concluem que a educação pode ajudar a explicar como os sintomas de TDAH afectam os resultados de QI.
Também é possível que existam subgrupos entre aqueles com TDAH que são mais resistentes aos efeitos comprometedores que os sintomas de TDAH podem ter sobre as competências e conhecimentos normalmente adquiridos através da educação. Por exemplo, Biederman et al. (2012) descobrem que os indivíduos com TDAH que têm um QI mais baixo também têm um desempenho inferior em medidas académicas em comparação com os indivíduos com TDAH que têm um QI mais elevado. Da mesma forma, o grupo com TDAH com QI baixo é mais susceptível de ser retido e colocado numa classe de ensino especial. Assim, em oposição à educação que afecta o QI, o QI poderia estar a influenciar o benefício da educação recebida de outra forma. Isto é consistente com a descoberta de que aqueles com TDAH e um QI mais baixo em oposição àqueles com TDAH com QI mais elevado são mais propensos a experimentar problemas sociais e múltiplas perturbações internalizantes (por exemplo, perturbações de ansiedade; Biederman et al., 2012). Como tal, um QI mais baixo entre os indivíduos com TDAH pode representar um subgrupo distinto que está em maior risco de insucesso educacional e problemas de saúde mental. Mais uma vez, esta investigação aponta para a necessidade de incluir os participantes com TDAH que têm QI mais baixo na investigação.
Overtudo, temos uma compreensão limitada da TDAH em populações com QI baixo como resultado de não incluir aqueles com QI inferior à média nos estudos. Assim, existe uma lacuna significativa na investigação: através do fracasso no estudo do TDAH em populações com QI baixo (isto é, 70-85) não sabemos (1) a taxa base de sintomas dentro desta população e (2) se um algoritmo de diagnóstico distinto seria adequado para os indivíduos com QI inferior à média que também podem potencialmente ter TDAH. Consequentemente, fazer inferências sobre a população com TDAH a partir de amostras excluindo participantes com deficiências intelectuais ligeiras é problemático. Seria negligente não abordar a noção de que pode ser difícil distinguir entre o TDAH e comportamentos semelhantes ao TDAH que ocorrem em resposta a exigências ambientais entre populações com QI baixo. No entanto, quando é feito um diagnóstico de TDAH, são tidos em conta factores ambientais. Assim, os investigadores podem estar razoavelmente seguros ao estudar populações com TDAH de que o diagnóstico é exacto. Em seguida, fazemos recomendações para ajudar a resolver os problemas que possam surgir da exclusão das pessoas com TDAH que têm QI.
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