Qi (chinês modernizado: 气, chinês tradicional: 氣, pinyin: qì, Wade-Giles Ch’i, pronúncia (ficheiro de som)) é o termo chinês para energia (vida), que faz parte de tudo. Está presente nas “10.000 coisas”, bem como nos seres vivos, nos quais está associada à respiração e às funções corporais. Como noção tradicional remodelada pelo pensamento taoísta, acredita-se que Qi seja capaz tanto de criar como de destruir, sendo assim a concepção central para sustentar o ensino da cura e da luta, ou seja, da Medicina Tradicional Chinesa, Qigong e das artes marciais (internas) chinesas.
Menor do caracter chinês
O velho caracter para “Qi” era como o caracter para “ar”, captando a natureza fluente de Qi e a sua omnipresença.
Later, o caracter evoluiu para um novo: o caracter para “arroz” pode agora ser encontrado no seu meio. Pode-se imaginar o arroz fumegante como um símbolo da energia fornecida ao corpo pelos alimentos, enquanto a própria estrutura da personagem lembra as oito direcções cardinais, nas quais o Qi está a fluir.
Aqui, Qi traduz-se literalmente como “ar”, “gás” ou “respiração” e figurativamente como “energia vital” ou “força vital”.
Vídeo “Caligrafia Qi”
Qi como noção
p>Diferentes expressões são construídas com a ajuda do carácter para Qi (氣), ilustrando as suas várias conotações:
– energia vital original – “元氣”(Yuan Qi)
– oxigénio – “洋氣”
– dióxido de carbono é poluído ou energia venenosa – “毒氣”
– ar – “空氣”
– electricidade – “電氣”
– energia do carvão – “煤氣”
– energia do vapor – “水蒸氣”
– gasolina – “氣油”
– floração – “氣球”
Existem também algumas expressões que utilizam Qi, que estão directamente relacionados com o corpo humano:
– uma pessoa zangada ou louca – “生氣”
– uma pessoa que está triste e liberta ar da boca – “嘆氣”
– uma pessoa zangada cuja cara fica vermelha – “火氣”
– uma pessoa que empurra ar na abdómen – “鼓氣”
– força física – “力氣”
– energia sexual – “精氣”
Qi como conceito de pensamento
Qi é uma noção filosófica bem como um modelo conceptual prático – um conceito de pensamento.
Apesar do seu interesse cognitivo em descrever os padrões de vida, o que sugere uma ligação às ciências da biologia ou da medicina, está muito mais relacionado com a abordagem filosófica das humanidades do que com a teoria científica natural. O seu objectivo é apreender a concepção biológica do corpo humano, mas também das plantas e dos animais como organismos vivos. A noção Qi capta o processo da vida: os recursos de movimento e actuação (artes marciais) resp. hiper- e hipofunções (Medicina Tradicional Chinesa). Assim ligado/ligado ao corpo e ao sistema corpóreo, não pode ser reduzido a uma energia flutuante abstracta nem ser descrito como energia material com um corpo (por mais subtil que seja) próprio. As expressões existentes de nei qi (Qi interno, pessoal) e wei qi (Qi externo) situam o corpo num ambiente, ao qual está ligado, por exemplo pelo processo de respiração.
Embora não seja visível, Qi não é místico. Um exemplo simples: Se fecharmos os olhos e segurarmos as palmas das mãos perto dos olhos sem lhes tocarmos, podemos sentir as mãos a irradiar calor – ou, em alguns casos, frio. Isto já seria uma manifestação de Qi.
O conceito de pensamento de Qi não é endémico na cultura chinesa; é comparável ao conceito hindu de “Prana”, ao japonês “Ki” e ao tibetano “Lung”.
Qi na Medicina Tradicional Chinesa
A Medicina Tradicional Chinesa descreve a doença como um estado de desequilíbrio de Qi em diferentes áreas do organismo.
Qigong – o cultivo da energia vital, que inclui exercícios respiratórios, bem como exercícios móveis e pode também conter elementos nutricionais – é considerado como uma forma de melhorar a saúde e a qualidade de vida em geral, equilibrando activamente o Qi.
Qigong é um dos cinco pilares da Medicina Tradicional Chinesa.
Além de praticar Qigong como método preventivo, pode encontrar a prática do fa qi, que funciona por um terapeuta transmitindo Qi – geralmente como energia térmica, ou seja, através de técnicas de toque e/ou massagem. Estas técnicas de Qigong estão mais relacionadas com Tuina (Massagem Chinesa) do que com poderes misteriosos de manipulação de energia por um mestre iluminado.
O conceito dos três tesouros (san bao) – Jing, Qi, e Shen – fornece o contexto para o Qi tal como é visto pela Medicina Tradicional Chinesa. Nele, Qi – a força vital, a energia da matéria corporal influenciada pelos pensamentos e emoções – está ligada a Jing – a energia sexual, ou seja, esperma/ovário, a essência do corpo físico – e Shen – o poder generativo do espírito, a consciência. Se um acrescentar xue (sangue) e os outros fluidos corporais, as cinco substâncias principais do corpo de acordo com a Medicina Tradicional Chinesa estão completas.
Qi nas artes marciais
Muitas artes marciais (internas) asiáticas, por exemplo o Taijiquan chinês e o Aikido japonês, mas também o gongfu de shaolin, referir-se a Qi. A noção de Qi é amplamente utilizada como um conceito didáctico, com a ajuda do qual o estudante é orientado para a execução correcta do movimento ou para o foco correcto, dizendo-lhe para onde conduzir o Qi.
Alguns aspectos do Qi podem também ser explicados pela biomecânica ou física corporal e são por isso – especialmente para estudantes não asiáticos – mais um sinal de respeito pela tradição cultural original do que uma necessidade. Outros aspectos do Qi vão além da ciência natural, no sentido em que não podem ser adequadamente expressos nas suas limitações. Um exemplo é a exigência didáctica de falar sobre o estado corporal do praticante avançado, que é sempre uma combinação de corpo (afrouxamento dos músculos, nervos, etc.) e mente (foco, intenção, estado mental geral). Apenas o estado correcto permite utilizar um poder flexível e suave (Qi) em vez do poder muscular mais rígido (Li) para executar um murro ou um arremesso. Outro exemplo é a diferença entre respirar e respirar: um lutador pode estar sem fôlego, ou seja, é incapaz de ripostar contra o seu adversário, mas ainda assim respirar. Aqui, Qi é utilizado no sentido de ar/gás/respiração: o lutador fica sem energia.
Na teoria de Taijiquan, Qi refere-se à energia intrínseca interna. Qi é necessário para a actividade mental e física: sem ele não se pode falar, andar ou pensar; a vida seria reduzida a um mero estado vegetativo, a um coma ou a uma morte viva. A própria existência de energia interna é antes de mais uma consequência de reacções bioquímicas no corpo. A energia interna resultante pode pressionar o nosso corpo a sentar-se ou a levantar-se, mas esta conversão de energia também pode ser utilizada para criar compressão no corpo, o que é capaz de gerar alta velocidade para poder dar murros e pontapés poderosos. Enquanto o corpo pode ser treinado para construir e manter a compressão, o Qi nu sem um fornecimento adequado de oxigénio e o poder da mente é inútil, como pode ser ilustrado pelo estado do corpo quando dorme. Qi nas artes marciais só funciona quando ligado à consciência mental e aptidão física.
Qi na filosofia chinesa
Existem diferentes interpretações filosóficas de Qi.
A narrativa taoísta da origem do mundo começa com a existência de yuan qi (Qi original), no qual Yin e Yang se misturavam. Como consequência da sua separação, formaram-se o céu e a terra: yang qi subiu e levou ao crescimento de um céu brilhante e claro, enquanto yin qi afundou e construiu o solo escuro e pesado. O homem recebeu tanto Yin como Yang, sendo assim retratado como uma ligação entre o céu e a terra. O conceito de Qi como criador de poder, como energia vital, está enraizado no Taoísmo.
Outras vezes, a filosofia taoísta utiliza a noção xue qi (血氣, blood-and-breath), ligando assim a direcção e expressão da energia vital à motivação moral/pessoal (vitalidade) e à construção do carácter. (Um paralelo solto a esta abordagem na língua inglesa pode ser visto na expressão “sangue frio”/”sangue quente” para um traço de carácter ou uma descrição de acção)
Em contraste com isso, o Neoconfucionismo vê um dualismo conceptual de Qi e Li. Para os Neoconfucianistas tanto Qi – a força da vida material – como Li (理) – os princípios racionais ou a lei (natural), cuja soma é taiji – são co-dependentes na criação das estruturas da matéria e da natureza.
Qi na cultura ocidental
A natureza mística, aparentemente não científica, do conceito de Qi como energia vital levou a diversas recepções e analogias na cultura ocidental. Na cultura popular, “a força” na Guerra das Estrelas é uma concepção de energia, que com os seus dois lados (claro e escuro) é aproximadamente comparável ao Qi com a sua Yin/Yang-dynamics, enquanto que não reivindica qualquer ligação.
Uma analogia precoce ao Qi é o “Orgone” de Wilhelm Reich, que era originalmente um conceito psicanalítico que mais tarde foi desenvolvido numa teoria pseudo-científica de energia flutuante abstracta que podia ser recolhida ou transmitida através de máquinas.
Nos anos 70, círculos ligados ao movimento da Nova Era, interessados no misticismo e na alquimia interior, desenvolveram uma noção ocidentalizada espiritual/esotérica da energia cósmica da vida. Enquanto a descrição da energia como estrutura corporal subtil e etérea também pode ser retraçada à alquimia medieval, as abordagens mais recentes tendem a reivindicar adicionalmente a herança tradicional do “Extremo Oriente” – ou seja, os conceitos de Qi ou Prana – para sustentar as suas teorias e para as apresentar como sendo unificadoras e universais na natureza. Este conceito “ocidental” de energia material, que em casos extremos se pensa mesmo reagir à invocação, pode ser visto como uma reificação da noção de Qi que é incompatível com o seu contexto original no pensamento chinês.
Audio ficheiro “pronúncia Qi”
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