Vibrio vulnificus infection in Southern Brazil – Case report

DISCUSSÃO

Vibrio vulnificus é um bacilo gram-negativo, que vive em zonas costeiras quentes com sal na camada intermédia, como no Golfo do México, colonizando a vida selvagem marinha, especialmente durante o Verão. Nessa área, estudos relataram que praticamente 100% das ostras foram colonizadas por V. vulnificus e/ou V. parahaemolyticus.3,4,5,6 A infecção primária por V. vulnificus ocorre através da ingestão do microrganismo em alimentos contaminados e subsequente translocação bacteriana através da mucosa gastrointestinal. Os sintomas iniciais são dor abdominal, náuseas, mialgia e febre. O desenvolvimento da sepsis é muito rápido, em média 18 horas após a ingestão, e é geralmente acompanhado pelo aparecimento de lesões cutâneas bolhosas especialmente nas extremidades, bem como a ocorrência de coagulação intravascular disseminada.4 Nos casos de sepse, a mortalidade é superior a 50%,4,7 atingindo 90% nos casos em que o choque séptico ocorre menos de doze horas após o início dos sintomas.5

Além das lesões cutâneas que ocorrem na sepse, a epiderme pode ser afectada por infecção directa através de lesões cutâneas que se assemelham a celulite bolhosa. No início, há dor e inchaço no membro afectado, seguido de erupção cutânea, e depois o aparecimento de lesões bolhosas com fluidos sero-hemorrágicos, progredindo para fascite necrosante4, semelhante à causada por outros agentes transmitidos pela exposição à água, como Aeromonas hydrophila.3,4

O diagnóstico definitivo de infecção por V. vulnificus ocorre através do crescimento de culturas de microrganismos. Os testes laboratoriais dos doentes mudam, indicando sepse grave, muitas vezes com leucocitose e uma mudança importante para a esquerda, bem como uma alteração da função renal.8 Por outro lado, os testes de imagem mostraram alterações não específicas tais como edema e acumulação de líquido nos tecidos afectados.

Um factor de grande importância relativamente à infecção por V. vulnificus é o aumento da susceptibilidade em indivíduos com imunodeficiências, doença hepática e doenças de acumulação de ferro, em que a presença de elevada carga de ferro na corrente sanguínea, como evidenciado por níveis elevados de ferritina e saturação da transferrina no sangue, parece aumentar a virulência do bacilo.3,9 Outros factores de risco de infecção são diabetes mellitus, uso de esteróides e insuficiência renal crónica.

p>Devido à gravidade das infecções por V. vulnificus, o diagnóstico precoce e a terapia são essenciais. O atraso de 24 horas no tratamento de pacientes com septicemia leva a um aumento da mortalidade, variando de 33 a 53% e atingindo 100% em pacientes que são tratados apenas 72 horas após o início da infecção.10, É necessário um elevado índice de suspeita para tratamentos apropriados, uma vez que a doxiciclina, o antibiótico de escolha, não faz normalmente parte da terapia empírica para a septicemia. Os riscos de comer marisco cru devem ser sempre considerados para reduzir a ameaça de surto desta infecção nas pessoas expostas.1

As medidas profilácticas são de grande importância para os doentes mais susceptíveis à infecção. A ingestão de frutos do mar deve ser evitada, e só devem ser comidos frutos do mar bem cozidos. Também se deve evitar o contacto de feridas abertas com água do mar, especialmente em áreas de maior risco (salinidade elevada e intermédia da água sob o calor) e no Verão.3

Neste caso, o paciente morreu nas primeiras 30 horas de hospitalização e o resultado da cultura esteve disponível três dias post-mortem. semelhança de relatórios anteriores, 24 horas após a ingestão de peixe cru, o paciente apresentou um resultado clínico de septicemia e choque séptico refractário, que apesar do apoio da unidade de cuidados intensivos e da antibioticoterapia resultou rapidamente em morte, enfatizando a gravidade desta infecção.

Este é o primeiro relatório de doença induzida por V. vulnificus no sul do Brasil, onde a temperatura da água é geralmente mais baixa do que no resto da costa brasileira. No entanto, foram detectadas temperaturas mais elevadas nesta região, provavelmente como consequência das alterações climáticas globais. A elevada mortalidade associada a esta septicemia exige medidas preventivas agressivas, tais como vigilância microbiana e aviso aos consumidores. Os médicos que gerem pacientes com doenças hepáticas crónicas e outras doenças imunocomprometidas precisam de educar os seus pacientes sobre o risco associado ao consumo de frutos do mar crus.1

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